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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

CD “Nós, as luas do Gonzaga” revela Gonzagão inédito


17/11/2011 O cantor, compositor e arranjador Gereba concebeu e está finalizando um CD com músicas inéditas de Luiz Gonzaga, revelando uma face musical surpreendente do Rei do Baião: choros, sambas e valsas da década de 1940 que ganharam letras de uma seleção de compositores convidada por Gereba e foram gravados por vozes de intérpretes que fazem deste CD Luas de Gonzaga uma homenagem mais do que especial ao Velho Lua.

Em 2012 a memória de Lua Gonzaga deverá receber centenas de homenagens. Um Museu para reverenciar a sua vida e obra será inaugurado em Pernambuco.

O texto que se segue, inédito, será publicado como encarte do CD Luas de Gonzaga e conta a história do disco cujas sementes foram semeadas durante uma semana que Gereba passou com o Velho Lua no sítio de Exu (1985). Ali o músico baiano aportou para convidar o pernambucano para fazer o Carnaforró em Salvador; e pode conhecer de perto e gravar aquele repertório que Seu Luiz lamentava ter ficado no esquecimento, soterrado pela força avassaladora do baião que a tudo arrebatou.

Luas de Gonzaga é o Luiz Gonzaga inédito.

Por Gereba

“Bem que essa noite eu vi gente chegando / Eu vi sapo saltitando e ao longe ouvi o ronco alegre do trovão / Alguma coisa forte pra valer tava pra acontecer na região / Quando o galo cantou, o dia raiou, eu imaginei / É que hoje é 13 de dezembro / E nesse 13 de dezembro nasceu nosso rei.” (Gilberto Gil)

Essa “gente chegando” que o nosso poeta Gil diz no primeiro trecho do 13 de dezembro da sua nobre parceria com Luiz Gonzaga, é na verdade a nossa chegada em Exu – minha, do parceiro Carlos Pitta e nossas namoradas – na madrugada de 12 pra 13 de dezembro de 1985. Lá ficamos por cinco dias a convite do nosso Rei do Baião para comemorar o seu aniversário pelos clubes de cidadezinhas vizinhas. Foram dias muito prazerosos para todos nós: Eu, Gonzaguinha, Marinês, Dominguinhos, Gilberto Gil, Carlos Pitta, Santana, Waldonys, Jorge de Altinho, Alcimar Monteiro, Camarão, Chiquinha Gonzaga, Joquinha Gonzaga e muitos outros da família.

Eu estava ali naqueles dias também em uma missão muito especial: convidar Luiz Gonzaga para inaugurar o projeto “CARNAFORRÓ” no carnaval da Bahia de 1986. Quando fiz o convite a “seu” Luiz, ele me disse:

Já estou com 73 anos e não vou ter condições de enfrentar aquela multidão da Praça Castro Alves.

Foi um banho de água fria, para me refazer do choque fui até cozinha tomar um copo de água. Cocei a cabeça e disse pra mim mesmo que precisava pensar em algo que demovesse aquele não. Como sou teimoso de natureza e não costumo desistir fácil das boas idéias, pensei que a orla marítima, entre o Porto e o Cristo da Barra, seria um lugar tranqüilo e que daria mais conforto pra “seu” Luiz, e então arrisquei:

“Seu” Luiz, o senhor topa tocar com a gente no Farol da Barra, um lugar bem ventilado com aquele marzão na nossa frente e vai ser só a gente com o nosso forró, pois nunca rodou nenhum trio elétrico por lá. Hospedo o senhor no hotel Praia Mar, que fica no Porto da Barra, paro o trio na porta do hotel, a gente segue até o Cristo e voltamos. No trio tem camarim com ar condicionado, uma água de coco e de vez em quando o senhor sobe as escadinhas e toca uns forrózinhos com a gente, o resto pode deixar comigo, Dominguinhos, o Grupo Bendegó e Bule Bule.

Ai ele disse:

Deste jeito eu topo, contanto que esse trio sirva pra divulgar o São João no carnaval.

“Seu” Luiz gostou tanto de tocar no trio CARNAFORRÓ que voltou nos carnavais de 1987 e 1988, só não cantou pra gente em 89 porque, como diz Capinan, “foi chamado pra tocar no céu, na fogueira de Deus, pra alegrar a imensidão”.

Este episódio, de forma despretensiosa, acabou por gerar desdobramentos muito saudáveis para o nosso carnaval baiano, pois o nosso trio de forró foi o primeiro a rodar pela orla marítima, atraindo, já em 1987, o deslocamento do já insuportável circuito do carnaval do Centro Histórico para a Orla Oceânica, criando o agora tradicional circuito Barra/Ondina. Naquele período isso significou a redução da violência em 60% nos dias da folia. Considero esse circuito um legado nosso, embora nunca nos tenham atribuído nenhum crédito.

Durante a minha estada em Exu, nos fins de tarde, eu ficava ali de prontidão com meu gravadorzinho de fita cassete gravando aquelas saborosas estórias de “Seu’ Luiz como a do “conto da sanfona”. E foi assim que registrei a primeira audição do 13 de dezembro. Era já noitinha quando Gil chegou com seu violão e um pedaço de papel de pão na mão escrito com a letra do belo choro que “seu” Luiz fez em 1952. Gil cantou com aquele swing maravilhoso que só ele faz em seu violão. Depois de apresentar o choro, deu um beijo na testa de “seu’ Luiz e todos nós vimos ele corar e muito emocionado dizer:

“Dominguinhos, eu acho que vou criar esse neguinho”.

Foi um momento lindo e raro pra todos nós naquele finalzinho de tarde.

Tivemos muitos e muitos outros momentos prazerosos, como ver Dominguinhos tocando de maneira impecável o 13 de dezembro pra “Seu’ Luiz na cozinha. Caminhar pelos arredores da fazenda com ele é uma das mais gratificantes lembranças que guardo comigo. Uma vez ele me levou até a parte mais alta da fazenda e disse que era ali naquela plataforma que ele sonhava construir o maior forró do mundo, pro povo dançar ao ar livre. Quando assisti ao filme Dodescaden do Kurosawa, que tem a cena do pai e o filho delirando em uma carcaça de um carro velho, me lembrei muito dessa cena com “Seu’ Luiz.

A concepção deste disco se fundamenta nessas memórias, nesses momentos vividos na fazenda do “seu” Luiz, em 1985. De uns três anos pra cá essas lembranças tomaram conta de mim, parecia que “seu” Luiz estava tentando se conectar comigo, e eu lembrei de vê-lo puxar uma cadeira, se plantar em minha frente e pedir que tocasse ao violão seus clássicos “Assum Preto” e “Noites Brasileiras”. Lembrei da satisfação que ele tinha de mostrar seus troféus, discos de prata e aqueles especiais de 78 rotações com aquelas valsas e choros. E aí decidi que essas valsas e os choros tinham que sair do anonimato e resolvi passá-los para os nossos queridos poetas brasileiros com Fernando Brant, Zeca Baleiro, Abel Silva, Carlos Pitta, J. Velloso Maciel Mello, Lirinha, Bené Fonteles e Tuzé Abreu.

Montei a suíte “LUA GONZAGA”, que fecha esse disco, lembrando muito desses preciosos momentos lá em Exu e toda vez que toco essa suíte, consigo enxergar ele ali, bem na minha frente.

Além dessas obras inéditas do nosso LUA GONZAGA, apresento as músicas “Galope além do mar”, com a bela letra de Capinan e “Sete Luas do Gonzaga” com letra de Ronaldo Bastos, nessa com a bela interpretação de Jussara Silveira, ambas com melodias minhas e em homenagem ao nosso Rei do Baião.

Percebo que essa intuição era uma espécie de destino, para dar visibilidade a uma obra do “seu” Luiz muito pouco conhecida. Tenho ciência de que, ao abraçar este projeto e possibilitar essas parcerias com tão ilustres autores da música brasileira e o nosso Gonzagão, nessas valsas e choros que ele compôs com tanta qualidade e sentimento nas décadas de 40 e 50, estou cumprindo mais uma sagrada tarefa para a cultura popular brasileira. Agora vamos passear com Mara, Ligya, Verônica, Marieta, Wanda e as outras luas do Gonzaga.

Um beijão.
Gereba

ROTEIRO DO CD “LUAS DO GONZAGA- UMA HISTÓRIA DE LUIZ GONZAGA GEREBA E CONVIDADOS” .

Concepção, violão e arranjos GEREBA

1- ABERTURA com a voz de Luiz Gonzaga (acervo Gereba, gravado em Exu em 1985-acervo Gereba) e voz de Ingra Liberato

2 – TREZE DE DEZEMBRO – Luiz Gonzaga/Zé Dantas e Gilberto–Gil, canta Gil com violão de Gereba, sanf. de Silvinho do Acordeon- Milton de Mori no cavaco e Zé Barbeiro no sete cordas, piston de Joatan Nascimento flauta de Tuzé Abreu e clarineta de Ivan Sacerdote-

3- PASSEANDO EM PARIS – Luiz Gonzaga/Gereba e Bené –Fonteles – canta Elba Ramalho com sanf.Targino Gondim, Silvinho, clarineta de ivan Sacerdote,baixo de Duda, violão de Gereba e violas de Raimundo Nova e Gereba

4- NUMA SERENATA – Luiz Gonzaga/Carlos Pitta canta Fagner, sanfona de Silvinho do Acordeon, CLARINETA de Ivan Sacerdote, flauta de Tuzé Abreu baixo de Ivan Bastos e percussão de Ivanzinho

5-SANFONA DOURADA de Luiz Gonzaga/ Maciel Melo cantam Dominguinhos/Maciel Melo – sanf. Dominguinhos.e Genario violão de Gereba, baixo de Ivan Bastos + Sinfonieta Nossa Senhora dos Prazeres reg.. Marcelo Martins

6- SETE LUAS PRO GONZAGA / Gereba/Ronaldo Bastos canta Jussara Silveira com violão de Gereba, sanfona de Silvinho, piston de Daniel Alcântara
e piano de Estevam Dantas

7- LIGIA –Luiz Gonzaga/Abel Silva – canta JorgeVercilo, violão de Gereba, piston de Joatan Nascimento, Sanf. Domnguinhos e Cesar do Acordeon

8- MARA – Luiz Gonzaga/ Zeca Baleiro, canta Zeca Baleiro com violão de Gereba, sanf. de Dominguinhos . e Oswaldinho

9- LUAR DO NORDESTE – Luiz Gonzaga/J.Velloso –canta Na Ozzetti, violão de Gereba, sanf. de Dominguinhos e Antonio Bombarda

10 – MARIETA – de Luiz Gonzaga e Fernando Brant- canta Jair Rodrigues com violão de Gereba, sanfona. de Silvinho do Acordeon

11- VERONICA – Luiz Gonzaga/Lirinha – canta Lirinha com sanfona. De Luiz Gonzaga (gravação da década de 40) violão de Gereba

12- WANDA – Luiz Gonzaga/Tuzé – canta Flavio Venturini, violão de Gereba, sanf. Dominguinhos, Silvinho e Zelito Bezerra – flauta de Tuzé Abreu e clarineta de Ivan Sacerdote

13 – PISE DE MANSINHO Luiz Gonzaga/Xico Bezerra cantam Adelmario Coelho e Santana com violão de Gereba,sanfona de Marquinhos Café, Milton de Mori no cavaco e Zé Barbeiro no sete cordas , flauta Tuzé Abreu

14- GALOPE ALÉM DO MAR – Gereba/Capinan – canta Gereba com sanf. De Silvinho viola, cavaco e violão de Gereba

15 – REI BANTU de Luiz Gonzaga e Zé Dantas e cantigas tradicionais do Recife (recolhidas por Lenine com MARGARETH MENEZES E LENINE Sanfona de Cicinho de Assis,violão e cavaco de Gereba

16 – SUITE LUA GONZAGA de Luiz Gonzaga/Gereba com fragmentos das canções:

- Assum Preto (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

-Uauá (Gereba) -Noites brasileiras (Luiz Gonzaga/Zé Dantas) -Sabaia (Gereba)

–Olha pro céu (Luiz Gonzaga e Jose Fernandes) -Pau de Arara (Venâncio/Corumbá/J.Guimarães) com Cicinho na sanfona + Sinfonieta Nossa Senhora dos Prazeres com regência do maestro Marcelo Martins e violão solo de Gereba.

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